Evento reuniu representantes do Ministério da Agricultura e Pecuária, acadêmicos e lideranças corporativas, como Grupo Pão de Açúcar, Raiar Orgânicos e Grupo Mantiqueira
A ONG internacional de proteção animal Sinergia Animal lançou o seu novo relatório "Ovos Livres de Gaiola: Transição Global para Modelos de Negócio Aceitáveis" nesta quinta-feira (12), em São Paulo, em um evento corporativo de grande impacto para o setor agropecuário e de bem-estar animal. O documento foi publicado em português, inglês e espanhol.
Desenvolvido pelo Departamento de Bem-estar Animal e Pesquisa da Sinergia Animal, o relatório discute modelos de negócios sustentáveis para a indústria de ovos e a necessidade urgente da transição para sistemas livres de gaiolas, destacando benefícios para as empresas e para o bem-estar das galinhas. De acordo com o relatório, galinhas confinadas em gaiolas são privadas de comportamentos básicos, levando a altos níveis de estresse e sofrimento.
"As gaiolas em bateria são um dos piores sistemas de produção ainda em uso pela indústria de alimentos. Uma vasta análise científica sobre o bem-estar das galinhas poedeiras nessas gaiolas descobriu que a transição para sistemas livres de gaiolas pode evitar mais de 7.000 horas de dor e sofrimento para cada galinha poedeira criada em um aviário livre de gaiolas, em vez de em uma gaiola em bateria", afirmou Fernanda Vieira, co-autora do relatório e diretora do Departamento de Bem-estar Animal e Pesquisa.
O evento de lançamento do relatório contou com a participação de especialistas renomados e representantes governamentais. “A capacidade de sofrer é um mecanismo para enfrentar problemas. Existem parâmetros científicos para quantificar o sofrimento animal”, destacou Newton Tércio Netto, do Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil, durante as plenárias promovidas no evento.
Para a Sinergia Animal, a transição para sistemas livres de gaiolas oferece ao Brasil a oportunidade de se alinhar às tendências globais e garantir uma produção mais ética. "Nosso objetivo com este relatório é encorajar mais empresas a adotarem sistemas livres de gaiolas e mostrar que essa é uma mudança possível. As soluções estão ao nosso alcance e o mercado já está se movendo nessa direção", acrescentou Vieira.
Um futuro viável
Professores e especialistas em direito ambiental e bem-estar animal da UFPR, Yuri Fernandes Lima, e da USP, Augusto Hauber Gameiro, apresentaram argumentos sobre a viabilidade técnica e econômica da transição e necessidade de mudanças culturais para catalisar o progresso — indicando que os sistemas livres de gaiola podem atender às exigências dos mercados nacionais e internacionais. Gameiro ressaltou ainda que “o relatório é um marco para o nosso país”.
Luiz Mazzon da organização international Humane Farm Animal Care, que estabelece padrões internacionais de bem-estar animal através do selo Certified Humane, trouxe exemplos inspiradores de empresas bem-sucedidas nessa transição, como as marcas Barilla e Sunny Eggs. Segundo ele, nos casos já implementados foram identificados benefícios importantes como uma menor mortalidade e indicadores de animais mais resilientes.
Empresas brasileiras lideram transição para ovos livres de gaiola
Durante o evento, lideranças corporativas ecoaram os indicadores positivos e apresentaram seus cases de sucesso no Brasil, como a marca Happy Eggs. Entre as vantagens do sistema livre de gaiolas na rede, Leandro Pinto do Grupo Mantiqueira apontou maior produtividade e melhores índices zootécnicos. Ele destacou que “gaiolas enriquecidas não são a solução” e reforçou a visão de futuro para a América Latina — com uma produção cada vez mais automatizada, segura e parcerias com supermercadistas para sensibilizar consumidores, incentivando escolhas mais conscientes.
Luis Barbieri, da Raiar Orgânicos, ressaltou os benefícios da certificação e de uma criação livre de gaiolas, com alimentação orgânica e que garanta a expressão de comportamentos naturais das aves. "A agricultura que nos trouxe até aqui não é a que vai nos levar ao futuro”, enfatizou Barbieri.
Encerrando as plenárias promovidas pelo evento, Renata Amaral, do Grupo Pão de Açúcar (GPA), compartilhou a história de sucesso da rede. Atualmente, 64,5% dos ovos das suas marcas próprias e exclusivas já são livres de gaiolas — com o compromisso público de chegar a 100% em 2025 e para todos os demais produtos até 2028. Entre os fatores relevantes do processo, ela destacou a rastreabilidade e o fortalecimento da relação com fornecedores para incentivar uma produção sustentável, articulação setorial para fortalecer regulamentações e a sensibilização de colaboradores internos, assim como dos consumidores.
Para a diretora da Sinergia Animal no Brasil, Cristina Diniz, o evento mostrou que um futuro livre de gaiolas é não apenas possível, mas vital para o bem-estar animal, a saúde humana e a sustentabilidade do planeta, reafirmando a necessidade urgente de mudar os sistemas de produção.
“O fim das gaiolas em bateria é um caminho inadiável. Com compromisso e colaboração entre empresas, governos e sociedade civil, podemos garantir um futuro mais justo para os animais e mais seguro para todos", finalizou Diniz.
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