O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) registrou, desde o início do ano, 5.242 focos de incêndios em terras indígenas. Esse é o maior número desde 2011, e mais que o dobro do registrado em 2018.
Os três territórios mais afetados são o dos povos Karipuna (Rondônia), dos Baú (Pará), e o dos Yanomami (Amazonas). São nessas terras que se registram os maiores números de queimadas em até 5 km da área demarcada. Quando se consideram os focos de incêndio dentro dos territórios indígenas, os mais ameaçados são o Parque do Xingu (Mato Grosso), com 495 focos apenas desde o início do ano, Raposa Serra do Sol (Roraima) e Apyterewa (Pará).
A situação dos Karipuna é especialmente delicada: nos últimos 10 anos, o povo apareceu nada menos que sete vezes no topo dessa lista. Não é à toa que há alguns anos o Ministério Público Federal alerta para o risco de genocídio contra os Karipuna, pela localização estratégica e cobiçada de suas terras, a partir de uma invasão de madeireiros e pecuaristas e um agravado contingenciamento de verbas para a fiscalização e monitoramento da região.
Consumo de carne financia atividades criminosas de pecuaristas
Em 10 de agosto, o chamado "Dia do Fogo", fazendeiros iniciaram um movimento conjunto para atear fogo na floresta Amazônica, tendo como base a cidade paraense de Novo Progresso, com o objetivo de abrir espaço para pastagens para o gado. Com ele atenções do mundo se voltaram para os impactos socioambientais da produção de carne brasileira.
Apesar de questionável, o uso do fogo é uma técnica bastante difundida entre os fazendeiros, uma vez que é de fácil execução e baixo custo. Ao queimar a biomassa nativa, os vegetais que rebrotam são mais atrativos para o gado, por serem mais macios e palatáveis. É uma forma de, também, grileiros expandirem as fronteiras agrícolas, mesmo que isso signifique invadir áreas de proteção ambiental e terras indígenas.
A criação de gado é a maior causa de desmatamento da Amazônia, contabilizando 80% do problema. Em 2018, as terras indígenas perderam 24,5 mil hectares de floresta. O baixo custo e a impunidade tornam esse um negócio extremamente rentável: o Brasil atualmente é responsável por um quarto da produção mundial de carne, sendo o maior exportador do mundo.
É difícil ganhar uma queda de braço contra os ruralistas e, na especulação de terras, quem quase sempre sai perdendo são os indígenas. Em 2019, essa derrota tomou feições oficiais. Logo ao iniciar seu governo, Jair Bolsonaro editou a MP 870 com a nova configuração e atribuições dos Ministérios. Segundo a medida, caberia ao Ministério da Agricultura a criação de novas terras indígenas e quilombolas (a MP viria a ser derrubada pelo Congresso, com as atribuições relativas à Funai devolvidas ao Ministério da Justiça). "Enquanto eu for presidente não tem demarcação de terra indígena", disse Bolsonaro, na época. Segundo ele, as reservas atrapalhariam o desenvolvimento do Brasil, já que "em 61% do Brasil não pode fazer nada" e que "estão acabando com o Brasil”.
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