O Dia Mundial da Água é comemorado nesta quarta-feira (22) — e a esta altura, “fechar a torneira” já se tornou um dos símbolos associados à data. No entanto, para além da água corrente na pia, estudos científicos revelam hábitos e produtos presentes no dia-a-dia dos brasileiros que escondem um gasto ainda maior de água e causam poluição dos recursos hídricos.
“Se olharmos para as nossas refeições diárias, por exemplo: quando consumimos produtos de origem animal, estamos aumentando imensamente a nossa pegada de água”, explica Taís Toledo, diretora de políticas alimentares da ONG internacional Sinergia Animal.
Queijo e carne bovina, assim como peixes e camarões criados em cativeiro, estão entre os alimentos que mais consomem água para serem produzidos. Para se ter ideia, a produção de 1 kg de queijo requer 5.605 litros de água, enquanto 1 kg de tofu demanda apenas 149 litros — quase 38 vezes menos.
Um único litro de leite de vaca equivale a um gasto de mais de 628 litros de água. A Water Footprint Network estima que adotar uma dieta à base de plantas por um mês, no Brasil, tem o potencial de economizar 1.811 litros de água, o que é equivalente a tomar 13 banhos longos consecutivos de 15 minutos cada.
Para Toledo, o fato da população não conseguir associar visualmente os produtos de origem animal com a grande quantidade de água que eles “escondem” é um desafio. “Quando as pessoas colocam uma peça de queijo no carrinho do supermercado, provavelmente a água não é a primeira coisa que vem à mente — mas deveria ser”, sugere.
Além de usar uma quantidade expressiva de água, a pecuária também é responsável por poluir recursos hídricos com o despejo de nutrientes em excesso e agrotóxicos. Esses componentes químicos podem gerar as chamadas “zonas mortas”, grandes extensões de água com pouco ou zero oxigênio, além de causarem danos aos animais aquáticos e à saúde humana através do consumo de água ou comida contaminada. O uso de antibióticos pela pecuária intensiva também já foi relacionado à contaminação de lençóis freáticos por meio dos dejetos dos animais. “Uma prevalência generalizada de bactérias resistentes a antibióticos foi documentada em nível global”, afirma a UNESCO.
“A grande quantidade de poluição de plástico causada pela indústria pesqueira também surpreende. Para se ter uma dimensão do problema, lavar roupas e outros tecidos gera 3,2% de toda poluição plástica no meio ambiente, mas redes e equipamentos de pesca poluem o dobro disso — somando até 7,2%”, aponta Toledo.
Mas não podemos desconsiderar nossos guarda-roupas tão rapidamente — pelo contrário. A produção e consumo de roupas é o segundo hábito destacado pela Sinergia Animal entre os que escondem uma grande pegada de água.
Um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) mostra que a indústria da moda e acessórios consome cerca de 215 trilhões de litros de água todo ano. Por volta de 21% são usados na produção de matéria-prima, devido aos altos níveis de água necessária para irrigar plantações, especialmente as de algodão, enquanto 24% são gastos nos processos de alvejamento, tingimento e acabamento das peças, chamados de “banhos”. De acordo com o PNUMA, só os corantes de tecido são os segundos maiores poluentes de água no mundo.
Os números impressionam. Misturados na água, até 8.000 produtos químicos são usados pela indústria têxtil para fazer com que um par de jeans tenha um aspecto “desgastado”, que um lençol tenha o toque macio ou que uma coleção inteira fique nas cores certas da estação. Alguns desses produtos são altamente tóxicos e costumam ser descartados na natureza sem tratamento suficiente — trata-se de uma combinação alarmante de sais, metais pesados, toxinas carcinógenas e corantes que afetam trabalhadores da indústria têxtil no mundo todo e poluem valiosas fontes de água potável.
Após entrar nas casas das pessoas, as roupas continuam prejudicando o meio ambiente silenciosamente. Em um relatório abrangente, a Fundação Ellen MacArthur estimou que a cada ano o equivalente a mais de 50 bilhões de garrafas plásticas é despejado nos oceanos em forma de microfibras plásticas provenientes da lavagem de roupas e tecidos.
“A água é um recurso finito. Se queremos proteger nossos recursos hídricos, precisamos começar a fazer mudanças tanto a nível industrial, quanto em nossos lares — como, por exemplo, adotar uma dieta à base de plantas”, propõe Toledo.
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