Novas evidências científicas mostram que diversos animais compartilham de qualidades e atributos antes considerados apenas humanos
Ativistas e organizações pela proteção dos animais se unem, neste sábado (31), em um movimento global pelo Dia Mundial pelo Fim do Especismo. A data desafia a crença de que os humanos têm o direito de explorar e oprimir animais não-humanos e, em vez disso, defende um mundo onde todos os seres sencientes são tratados com respeito e compaixão.
Para debater o tema, apresentamos abaixo uma série de reflexões sobre como o nosso relacionamento com os animais irá moldar o futuro. Confira!
O argumento da consciência animal: somos mesmo tão diferentes?
Durante séculos, os animais não-humanos foram considerados como meras commodities. Suposições sobre suas habilidades inferiores e falta de raciocínio, linguagem e até mesmo senciência justificaram o uso e a exploração de animais para alimentação, cosméticos, entretenimento, transporte, medicina e outros projetos humanos. No entanto, recentes evidências científicas mostram que diversos animais compartilham de qualidades e atributos humanos, diminuindo a diferença que antes sustentava a discriminação.
Por exemplo, as estruturas cerebrais que são associadas às emoções humanas e à capacidade de sentir dor vêm sendo amplamente encontradas em todos vertebrados. “Um número cada vez maior de animais está sendo reconhecido pela ciência como seres com inteligência, memória e capacidade de manifestar sensações e emoções. Ao mesmo tempo, estamos progredindo na identificação de suas linguagens, dos laços sociais que os animais estabelecem e seu desejo inerente de viver uma vida sem dor e sofrimento”, explica a diretora da Sinergia Animal no Brasil, Cristina Diniz.
O ano de 2012 foi um ponto de virada: um renomado grupo de cientistas publicou a “Declaração de Consciência de Cambridge”, reconhecendo que várias espécies de animais (incluindo todos os mamíferos e aves, mas também outras espécies) compartilham os mesmos substratos neurológicos de consciência que os humanos.
Entre 2021 e 2022, todas as espécies vertebradas e muitas das invertebradas (como lagostas, polvos e caranguejos) foram incluídas legalmente na Lei de Bem-estar (e Senciência) Animal pelo governo no Reino Unido, promovendo a criação de leis que considerem a sua capacidade de sentir dor.
Já em 2024, a “Declaração de Nova Iorque sobre Consciência Animal” incluiu ainda os insetos e os moluscos, como caracóis e ostras, e constatou que “quando existe uma possibilidade real de que um animal tenha consciência, seria irresponsável ignorar essa possibilidade ao tomar decisões que afetam esse animal”.
“Essas declarações deixam claro que as justificativas para a exploração animal são tendenciosas ou simplesmente incorretas. Estudos psicológicos mostram que os humanos sentem mais empatia por espécies com as quais temos uma relação mais próxima (mamíferos ao invés de pássaros e peixes, por exemplo). Mas novas pesquisas vêm mostrando que todas as espécies merecem ser consideradas moralmente, não importa quão próximos somos delas ou não. Precisamos fazer as mudanças necessárias em nossa sociedade para que as suas vidas sejam respeitadas”, defende Diniz.
Como a causa animal está moldando o futuro
Com o crescente reconhecimento da senciência animal, organizações e ativistas dedicados a proteger os animais estão buscando transformar as indústrias que os exploram, eliminando suas práticas mais cruéis e promovendo alternativas para que os animais não precisem ser prejudicados por interesses humanos. À frente desse movimento, a ONG internacional Sinergia Animal aponta a pecuária industrial como um dos problemas mais urgentes.
“Nossa luta contra o especismo é pautada por objetivos fundamentais, como proteger as espécies mais negligenciadas: mais de 80 bilhões de animais terrestres são abatidos pela indústria da carne todos os anos. As estimativas para peixes e outras espécies marinhas não são tão precisas, mas chegam a dobrar o número. A maioria desses animais é criada em sistemas de confinamento intensivo conhecidos como fazendas industriais’, onde a busca por lucro frequentemente anula a preocupação com o bem-estar animal: eles são amontoados em gaiolas ou galpões superlotados, impossibilidade de expressar muitos de seus comportamentos naturais e submetidos a procedimentos dolorosos e a doenças”, aponta a diretora da Sinergia Animal no Brasil.
Apesar da expansão contínua da pecuária industrial ser preocupante, a Sinergia Animal acredita que o movimento pelos direitos e pelo bem-estar animal está liderando uma revolução como nunca antes.
“A transformação da indústria de alimentos é evidente. Estamos garantindo compromissos de milhares de empresas globalmente para acabar com as práticas mais cruéis, como o confinamento em gaiolas; pressionamos o setor financeiro a desinvestir na pecuária industrial; e apoiamos instituições para que sirvam milhões de refeições à base de vegetais. Quase 60 milhões de animais por ano estão sendo impactados positivamente por nossas campanhas. Esses resultados mostram que estamos moldando um futuro melhor para todas as espécies, o que é essencial em nossa missão antiespecista”, conclui Diniz.
Milhares de ativistas se unem em defesa dos animais
Neste Dia Mundial pelo Fim do Especismo, a Sinergia Animal abre uma chamada global para que ativistas se voluntariem para proteger animais em diversos países, incluindo no Brasil.
Se você quer fazer parte desse movimento, inscreva-se aqui.
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