Uma investigação conduzida pela ONG internacional Sinergia Animal revelou práticas polêmicas contra animais na cadeia de produção de leite da Alvoar Lácteos. A empresa pode receber em breve um empréstimo de cerca de R$ 160 milhões do braço privado do Grupo Banco Mundial, a International Finance Corporation (IFC). A análise da Sinergia Animal fornece evidências de que essas práticas violam diversos padrões de bem-estar animal estabelecidos como boas práticas pelo IFC, e insta a instituição financeira a reter o empréstimo.
Violação 1
Boa prática do IFC: “A acomodação deve permitir que todos os animais interajam diretamente com o rebanho ou companheiros de rebanho, a menos que isolados por razões veterinárias ou de enfermagem”
Em duas fazendas que abastecem a Alvoar, os investigadores encontraram bezerras confinadas em gaiolas com as laterais totalmente bloqueadas por uma chapa metálica. Isso significa que esses animais não têm interação com suas companheiras de rebanho por até 80 dias após o nascimento, embora não haja razão veterinária ou de enfermagem para isso.
É importante destacar que essas gaiolas também violam leis estabelecidas pela União Europeia, que estabelecem que “baias individuais para bezerros (exceto aquelas destinadas ao isolamento de animais doentes) não devem ter paredes sólidas, mas sim paredes perfuradas que permitam aos bezerros um contato visual e tátil direto”.
Os padrões da UE também exigem que os bezerros não sejam mantidos em alojamentos individuais por mais de oito semanas. Mas em uma fazenda fornecedora de Alvoar, os investigadores foram informados de que as bezerras são isoladas neste sistema de confinamento por até 11,5 semanas (80 dias).
Violação 2
Boa prática do IFC: “O alojamento deve ser construído de materiais resistentes ao fogo”
Novamente, em dois fornecedores diferentes da Alvoar, os investigadores encontraram bezerras confinadas em gaiolas individuais feitas de madeira, que não é um material resistente ao fogo. Dado que os animais são trancados nessas gaiolas, eles correm um alto risco de serem queimados vivos em caso de incêndio.
Violação 3
Boa prática do IFC: “Todos os animais devem ter acesso a um local limpo e seco dentro da área de confinamento”
Um fornecedor da Alvoar usa gaiolas muito pequenas para bezerras, e algumas foram encontradas sujas e úmidas com esterco. Uma bezerra havia perdido seus pelos nas patas traseiras por causa da diarreia. O fazendeiro admitiu que essas gaiolas não são ideais, pois apresentam problemas de higiene e podem levar a mais doenças.
Fazendeiro: “Estas gaiolas são muito quentes e cheiram muito ... Sim, esta bezerra está com diarreia. Essas gaiolas ficam sujas, e a cama fica densa. Aí também temos mais problemas com pneumonia e diarreia …Essas gaiolas são muito ruins.”
É importante também destacar que essas gaiolas poderiam ser consideradas ilegais nos países membros da UE, pois elas são muito estreitas. Os padrões da UE estabelecem que “A largura de qualquer baia individual para um bezerro deve ser pelo menos igual à altura do bezerro na cernelha, medida na posição em pé”. Nesse fornecedor da Alvoar, as gaiolas são tão pequenas que as bezerras não conseguem nem se virar facilmente.
Violação 4
Boa prática do IFC: “Os animais devem ser protegidos de predadores, vermes e barulho excessivo”
Em um fornecedor da Alvoar, os bezerros machos são amarrados logo após o nascimento e podem ficar acorrentados por dias, em campos abertos e sem cercas, até que um caminhão venha para levá-los para o abate. Este fazendeiro admitiu que não faz o mesmo com as bezerras fêmeas, porque elas correm o risco de serem atacadas por urubus. As bezerras são “protegidas” porque são um recurso valioso para fazendas leiteiras, já que produzem leite, ao contrário dos bezerros machos, que são considerados “sobras” indesejadas da produção de leite.
Violação 5
Boa prática do IFC: “Animais com acesso ou vivendo ao ar livre devem ter acesso à sombra e abrigo”
Os bezerros machos recém-nascidos acorrentados por este fornecedor da Alvoar têm apenas uma pequena “casa" como abrigo, que claramente não é suficiente para protegê-los de chuvas fortes e temperaturas extremas. O fazendeiro admitiu que este não é um sistema de alojamento ideal e por isso mantém as bezerras em gaiolas fechadas.
Fazendeiro: “Imagina numa época dessas, acaba de chover, você pega um bezerro recém-nascido e você põe debaixo de chuva, tem o sol quente, chovendo, sujeira, comida, barro. Um recém-nascido que não tem nada de imunidade…”
Esta prática de amarrar (acorrentar) bezerros por muitas horas e dias também é ilegal na UE: “bezerros não devem ser amarrados, com exceção dos bezerros alojados em grupo, que podem ser amarrados por períodos não superiores a uma hora no momento da alimentação com leite ou sucedâneo do leite.”
Violação 6
Boa prática do IFC: “Devem ser tomadas providências para cuidar dos animais durante a viagem e no destino”
Uma investigação anterior da Sinergia Animal mostra um bezerro sendo espremido em uma caixa de transporte antes de ser transportado em um caminhão de gado
Embora as condições de transporte de bezerros machos recém-nascidos provenientes de fazendas fornecedoras da Alvoar, para matadouros legais ou ilegais, não tenham sido documentadas, é muito provável que esses animais pequenos e frágeis sejam transportados em caminhões próprios para bovinos adultos.
Isso foi observado pelos investigadores da Sinergia Animal no estado de Minas Gerais, onde estão localizados muitos fornecedores da Alvoar. É muito provável que esses animais sejam transportados em condições inadequadas, inclusive em temperaturas que podem colocá-los em estresse térmico.De acordo com recomendações da UE, bezerros jovens não devem ser transportados em temperaturas superiores a 25˚C, e as temperaturas no Brasil frequentemente excedem 30˚C.
Violação 7
Boa prática do IFC: “Cuidados especiais devem ser tomados com animais fatigados, velhos, jovens, enfermos, prenhes e/ou lactantes" e "Todos os animais devem ser manuseados, contidos, deixados inconscientes até a morte e abatidos da maneira menos angustiante e sem dor possível por pessoal treinado e competente”
Bezerros jovens e recém nascidos são animais tratados com cuidados indevidos na produção leiteira dos fornecedores de Alvoar. Esta investigação mostra que eles são mal alimentados e abatidos horas ou dias após o nascimento, em matadouros que são legais, mas que podem não conter e insensibilizar adequadamente os animais.
De acordo com especialistas em bem-estar animal, o bezerro abatido no vídeo dessa investigação não foi devidamente contido e a pistola insensibilizadora não foi colocada no local correto na cabeça dele. Isso significa que é possível que ele estava consciente e sentindo dor ao ser pendurado e sangrado.
A investigação também levantou evidências de que os bezerros doados pelos fornecedores da Alvoar podem ser abatidos fora dos abatedouros legais. Uma enquete realizada no Brasil mostra que, fora de abatedouros legais, é comum o abate de bezerros recém-nascidos por traumatismo craniano (golpes na cabeça), sangramento e asfixia.
Violação 8
Norma IFC: “Animais incapazes de andar e outros animais impróprios devem ser sacrificados imediatamente e humanamente no local”
Foto padrão de uma vaca leiteira em uma fazenda industrial
Dois fornecedores de Alvoar admitiram que não sacrificam humanamente vacas machucadas que não pode mais andar nas fazendas. Ao invés disso, eles as vendem para o abate, inclusive para pessoas que poderiam abatê-las fora de abatedouros legais. Para serem transportadas, elas são levantadas por tratores, uma prática que pode causar medo, estresse e dor.
Não faz sentido algum que o IFC financie operações que violam suas próprias boas práticas e causam tanto sofrimento e angústia aos animais.
Por favor, visite nosso site da campanha e peça que o IFC seja coerente e não aprove este empréstimo.
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